Era um final de tarde de um dia de Verão. Estivera um dia escaldante e, agora, começava a arrefecer, sentindo-se mesmo um arrepio leve que a brisa fresca causava.
Na floresta ouviam-se agora os pássaros a regressarem às árvores, que piavam eufóricos, prontos para se recolherem.
Tita, depois de um dia de calor, pensou ir dar um passeio pela floresta. Ela vivia numa ponta da floresta a 7 quilómetros da aldeia mais próxima. Vivia com sua mãe e seu irmão numa casa de pedra, com um telhado extremamente inclinado para, no Inverno, a neve não acumular no telhado e não o pôr em risco de cair. Lá os Invernos eram extremamente frios e os Verões eram de um calor infernal. A sua mãe, todos os meses, ia à aldeia mais próxima comprar aquilo que não podia criar nem cultivar e vender aquilo que tinha em excesso.
Já de volta para casa, Tita ouviu o barulho de um cavalo a galopar e, sem perceber como, apareceu repentinamente um homem a cavalo atrás dela. Tinha vestidas roupas de cavaleiro com o brazão da realeza.
- Menina, chega cá. Venho por parte de El-Rei de Portugal - disse ele - e precisava que tu me ajudasses a capturar um grande bandido que vem nesta direcção. Quando ele passar por ti, atira-lhe esta manta para cima dele. Estamos a tentar apanhá-lo há muito tempo. Se ele tiver este tecido mágico perto do seu corpo, a sorte virar-se-á contra ele e será mais fácil capturá-lo.
- Mas, senhor, estais-me pedindo para participar na morte de alguém ?! Eu sou só uma criança... - tentou justificar-se Tita.
- Menina, fazei o que vos estou pedindo. Não estareis a participar numa morte, mas sim numa tentativa de fazer deste mundo um lugar melhor, numa tentativa de tirar deste mundo tanto pecado.
- Mas, mas...
- Menina, se o fizerdes, vós e a vossa família sereis recompensadas por ajudar El-Rei. Vá lá, ele deve estar a aproximar-se.
Durante alguns instantes, fez-se silêncio. Então, depois desse silêncio, o cavaleiro perguntou:
- Então, aceitais?
- Que Deus me perdoe - sussurrou. - Aceito - disse agora com uma voz mais firme.
O cavaleiro sorriu-lhe e desapareceu.
Tita esperou. Atrás de uma árvore, extremamente perto do caminho de bois da floresta, ela esperou cerca de quinze minutos. Já estava aborrecida, pensava que tinha caído numa estúpida conversa, de alguém que queria gozar com ela. Estava furiosa.
De repente, começou a ouvir o galopar de um cavalo, que ia a correr muito depressa, como quem está a fugir. Pensou que seria o cavaleiro que vinha concluir a sua partida e rir-se dela. Mas, à medida que o cavalo se ia aproximando, apercebeu-se que não eram um, nem dois, eram muitos, cerca de cinco ou seis homens. Então, o medo apoderou-se dela. Pegou na manta que o cavaleiro lhe tinha dado. A manta era preta, mas não um preto normal. Era uma cor profunda e mágica. Tita tinha-a deixado longe de si, enquanto esperava. A manta assustava-a.
Então, os cavalos aproximaram-se tanto que ela já os via. De facto, eram cinco. À frente, a fugir, ia o homem ao qual ela tinha de atirar a manta, depois ia um arqueiro, o cavaleiro com o qual falara e três guardas reais.
Tita estava em pânico. Nunca imaginara passar por tal situação.
Já não estava um final de tarde bonito, estava agora um início de noite pavoroso. As nuvens tinham aparecido e faziam formas diabólicas. A lua, cheia, estava com um brilho intenso. As árvores gritavam, com o barulho das folhas a cortar o vento. O cheiro a pinheiro e o ar fresco tinham desaparecido, havendo agora um odor estranho, desconhecido, que ela não gostava e receava.
Depois tudo se passou muito depressa: os cavalos aproximaram-se, o cavaleiro fez-lhe sinal e ela atirou a manta, que ficou à frente do fugitivo, "colada" ao seu corpo. Nesse momento, apareceu uma cobra à frente do cavalo do fugitivo, o cavalo assustou-se, abrandou, o arqueiro disparou uma seta que lhe atingiu o coração. O homem caiu e o arqueiro disparou mais uma seta, atingindo mortalmente a garganta do homem.
Tita regressou a casa, asssutada, e contou à mãe, que estava preocupadíssima devido à longa ausência da filha, tudo aquilo que se tinha passado.
Um ano mais tarde, receberam em casa uma enorme fortuna juntamente com uma carta. Nessa carta explicava-se que o homem capturado costumava assaltar grandes quintas, matando todos os homens e violando todas as raparigas.
Mãe e filhos viveram bem até ao resto dos seus dias, tendo sempre a protecção do Rei.